sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Celebração do Amor

Ato 1


A primavera avançava outubro afora
Prometendo singelas oscilações de humor,
Conquanto de cinza se cobria e
no retorno, já finzinho de tarde,
Deixava um hálito frio soprando no cangote das meninas.

Nem isto
Nem por isto, nem se isto em algum império impusesse sua tristeza,
Constrangeria minhas fronteiras.
Não, ainda não é tempo de lágrimas abundantes,
Nem o sopro
Que outrora trazia seu conforto de soslaio,
Para que as solteiras sequer percebessem as intenções, sem qualquer mágoa,

De um rudimentar poeta, de estilo esquivo.
E mais esquivo que toda política poderia conter no parlamento.
Outubro tem este jeito de prometer aromas e veleidades florais,
Se bem inda confabula com as tardes nevoentas.
Mas o tempo avança, ameaça, se enrosca, anuncia tornados, isola os amantes,
Sufragando uma noite peremptória na alma de descuidado vivente.
Agora era sua vez de pular amarelinhas e você se foi.
Agora não há mais brinquedos,
Não há
A surpresa do presente aberto sobre pinheiro de Natal. Não
Ah! Como tudo se foi
E o silencio carregou-se de todas as noites sem qualquer estrela.

Ato 2.


Este desconsolo de ficar
Numa hora insuspeita da noite
Diluído numa sinfonia abstrata
E perante a transitoriedade do amor
Ir buscar no sono distante
A fuga da fuga!

Meu coração se incorpora
À terceira galáxia
E se recusa – violento –
Desprender-se do eterno.

Talvez se memória ajudasse.
Se um corpo de mulher
- um corpo etéreo de mulher –
Surgisse sobre o ombro
Para colher este poema
- uma flor de bronze –
E depois submergisse
Ao contato de outro corpo
- meu corpo perplexo e confuso –
O dia seria uma conjugação possível.

Na infância aprendi lições de romantismo.
Na idade adulta
Estas lições agora emolduradas
Em velhos casarões
Reúnem-se a incríveis paisagens
Para zombar dos descuidos sentimentais
Que a cada espaço de vida
Desfalecemos
- a vida vira coisa incerta -.

Mas se a memória ajudasse!

Porém o ar retém uma imagem
Que obscura o cérebro,
Conduz a insônias terríveis
E – de surpresa – repousa no travesseiro
Para ternamente dizer de um tempo pretérito
Onde certa vez o amor aconteceu de súbito.


Não.
Não há consolo quando o coração
Pretende fugas ao eterno.

Madrugada começa a busca
De um sucedâneo para a solidão.

Será vão – mas percorremos o quarto vazio:

Lençóis rebuscados restam
Como testemunho da febre
Que antecede a diluição da entrega

Só mais tarde,
Muitíssimo mais tarde,
Ocorre de improviso
Ao artista que em pleno palco
Perdeu sua máscara:

O corpo é a um só tempo, fogo, miragem, espera.

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