"UM PRAZO PARA O LUTO
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Comentei em abril de 2011, por ocasião do triste episódio da escola do Realengo que, com raras exceções, o luto tem um prazo. Aos poucos, até de maneira inconsciente a pessoa vai se adaptando à ausência da pessoa amada como se adapta às grandes feridas do corpo. Graves acidentes costumam exigir mais tempo para a cura, mas a dor passa, a ferida é sanada e as cicatrizes que ficam lembram o que houve, mas doem menos o quase nada porque acabaram os dias de chaga viva.
Poucas pessoas cultivam luto prolongado. E não é nem nunca foi falta de amor. É dor superada. Aqui e acolá sabe-se daquela mãe, e daquela namorada ou daquele pai para quem a vida acabou. Seu amor foi para o lado de lá e eles ou elas se trancaram do lado de cá. Ou jogaram as chaves fora, ou não as acham, ou não querem sair do seu isolamento. Dizem que não conseguem controlar, mas é dor consentida e cultivada. Chegam a dizer que sair do luto é trair a memória do falecido. Nunca lhes ocorreu que cultivá-lo pode ser contra a vontade da pessoa que se foi! Afinal, se o céu existe e se a pessoa está com Deus a ultima coisa que ela, marido, esposa, filho, filha desejam é ver que quem ficou decidiu parar de viver.
Para a maioria o que era ferida, agora é marca que não dói; o que era perda, agora é paz. Se crêem entendem que haverá um reencontro. Como, ninguém sabe, mas haverá. O aqui que terminou para quem se foi também terminará para quem ficou. Haverá um depois e nele as almas se encontrarão numa dimensão que só quem morreu conhece.
Pregadores da fé, além de crer num depois, costumam fantasiá-lo. Crer é uma coisa, fantasiar é outra! Imaginam o Deus que nunca viram e imaginam o céu que também nunca viram. Vivem mais dessas imagens criadas do que da fé que afirma saber que há, mas não como é!
Magistralmente São Paulo propõe aos seus discípulos que se consolem com palavras de esperança. A carne irá para o túmulo, mas não nós. Somos mais do que nosso corpo. Haverá um depois não para o corpo, mas para a pessoa que somos. Quem perde as duas pernas não fica pessoa pela metade. Quando o corpo morre, a pessoa não morre. No dizer da igreja, a vida não é aniquilada, mas transformada. Seremos a mesma pessoa, mas não com os mesmos detalhes físicos. Jesus ressuscitou e atravessava portas. (Jo 20,26).
Para nossa fé a morte não é o nosso último ato e nem o túmulo o nosso último endereço; do corpo, sim, mas não da pessoa que somos! (1 ts 4,13-18) E não pedimos aos mortos que venham até nós. Esperamos sofridos, mas serenos, o dia de irmos até eles.
Cremos que os que morreram são os primeiros a pedir que paremos de cultivar sua morte. Não vestíamos luto enquanto viviam aqui; não vestiremos agora que se foram, sobretudo se cremos que estão na plenitude. Sabem mais do que nós: conhecem os dois lados do viver. Nós, apenas este… Deixar claro que só estaremos bem se eles se manifestarem não seria o mesmo que exigir que voltem. E isto não seria pensar mais em nós do que neles?…

Comentei em abril de 2011, por ocasião do triste episódio da escola do Realengo que, com raras exceções, o luto tem um prazo. Aos poucos, até de maneira inconsciente a pessoa vai se adaptando à ausência da pessoa amada como se adapta às grandes feridas do corpo. Graves acidentes costumam exigir mais tempo para a cura, mas a dor passa, a ferida é sanada e as cicatrizes que ficam lembram o que houve, mas doem menos o quase nada porque acabaram os dias de chaga viva.
Poucas pessoas cultivam luto prolongado. E não é nem nunca foi falta de amor. É dor superada. Aqui e acolá sabe-se daquela mãe, e daquela namorada ou daquele pai para quem a vida acabou. Seu amor foi para o lado de lá e eles ou elas se trancaram do lado de cá. Ou jogaram as chaves fora, ou não as acham, ou não querem sair do seu isolamento. Dizem que não conseguem controlar, mas é dor consentida e cultivada. Chegam a dizer que sair do luto é trair a memória do falecido. Nunca lhes ocorreu que cultivá-lo pode ser contra a vontade da pessoa que se foi! Afinal, se o céu existe e se a pessoa está com Deus a ultima coisa que ela, marido, esposa, filho, filha desejam é ver que quem ficou decidiu parar de viver.
Para a maioria o que era ferida, agora é marca que não dói; o que era perda, agora é paz. Se crêem entendem que haverá um reencontro. Como, ninguém sabe, mas haverá. O aqui que terminou para quem se foi também terminará para quem ficou. Haverá um depois e nele as almas se encontrarão numa dimensão que só quem morreu conhece.
Pregadores da fé, além de crer num depois, costumam fantasiá-lo. Crer é uma coisa, fantasiar é outra! Imaginam o Deus que nunca viram e imaginam o céu que também nunca viram. Vivem mais dessas imagens criadas do que da fé que afirma saber que há, mas não como é!
Magistralmente São Paulo propõe aos seus discípulos que se consolem com palavras de esperança. A carne irá para o túmulo, mas não nós. Somos mais do que nosso corpo. Haverá um depois não para o corpo, mas para a pessoa que somos. Quem perde as duas pernas não fica pessoa pela metade. Quando o corpo morre, a pessoa não morre. No dizer da igreja, a vida não é aniquilada, mas transformada. Seremos a mesma pessoa, mas não com os mesmos detalhes físicos. Jesus ressuscitou e atravessava portas. (Jo 20,26).
Para nossa fé a morte não é o nosso último ato e nem o túmulo o nosso último endereço; do corpo, sim, mas não da pessoa que somos! (1 ts 4,13-18) E não pedimos aos mortos que venham até nós. Esperamos sofridos, mas serenos, o dia de irmos até eles.
Cremos que os que morreram são os primeiros a pedir que paremos de cultivar sua morte. Não vestíamos luto enquanto viviam aqui; não vestiremos agora que se foram, sobretudo se cremos que estão na plenitude. Sabem mais do que nós: conhecem os dois lados do viver. Nós, apenas este… Deixar claro que só estaremos bem se eles se manifestarem não seria o mesmo que exigir que voltem. E isto não seria pensar mais em nós do que neles?…
